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Muito Além do Inglês...

  • Foto do escritor: Diogo Ezequiel Peroni
    Diogo Ezequiel Peroni
  • 8 de dez. de 2024
  • 4 min de leitura

Atualizado: 19 de abr.


Viagem Intercâmbio Morar Fora
Viagem Intercâmbio Morar Fora

Quando decidi fazer um intercâmbio, já estava próximo dos 36 anos, o que é considerado um pouco tarde para essa experiência, já que a maioria das pessoas realiza intercâmbios por volta dos 15 ou 20 anos. Fui motivado pelo desejo de "destravar" meu inglês e pela aspiração de viver a minha própria versão de "Comer, Rezar, Amar". Embora a vivência não tenha sido exatamente como eu esperava, teve um pouco disso durante os seis meses que passei fora.




Confesso que estava bastante apreensivo com a ideia de viajar. O receio em relação ao voo me deixou em estado de alerta, a ponto de preparar uma pasta de documentos para meu pai, caso algo acontecesse. Cheguei a elaborar uma "carta de intenção", que funcionava como uma espécie de testamento (não no sentido legal, mas simbólico). Para lidar com essa ansiedade, busquei ajuda psicológica, pois meu medo era do voo, e não da aventura em si.


Apesar do grande desafio, nunca havia feito nada sozinho antes; achava sem graça não estar acompanhado de amigos ou familiares. A ideia de estar sozinho em um país distante, sem conhecer ninguém e sem dominar a língua, me deixava em pânico. A incerteza sobre em quem eu poderia confiar enquanto conhecia novas pessoas também me aterrorizava.


Felizmente, tudo correu bem na viagem e consegui chegar ao meu destino. Nos primeiros dias, a euforia era intensa: a novidade, a diversão do desconhecido e a emoção de estar vivendo aquela experiência. Fui para uma escola de inglês e, é claro, encontrei outros brasileiros. Isso ajudou a amenizar a saudade de casa, embora tenhamos combinado que, sempre que possível, deveríamos conversar em inglês, afinal, estávamos lá para isso.


Fui acolhido por uma família local em Gatineau, no Canadá, enquanto estudava em Ottawa. A família me recebeu muito bem, demonstrando grande simpatia e me oferecendo um quarto confortável. Porém, lembro claramente da primeira refeição que tive com eles... Não estava acostumado a jantar, pois morava sozinho há anos e costumava apenas fazer um lanche ou comer algo rápido. Eles tinham um horário fixo para as refeições, e às 18h00 a janta estava à mesa. Com o meu limitado vocabulário em inglês, mal conseguia me comunicar; a ansiedade estava à flor da pele. A dona da casa preparou uma salada muito apetitosa, mas com azeitonas pretas enormes! Nunca fui fã de azeitonas, mas minha educação e algumas barreiras emocionais não me permitiram recusar. Assim, acabei comendo. Para minha surpresa, foi assim que aprendi a apreciar azeitonas, uma experiência que até hoje me faz sorrir.


Pode parecer trivial, mas foi um passo importante na minha jornada de adaptação, aprendizado e novas descobertas sobre mim. Como algo simples, como uma azeitona, pode simbolizar desafios e superações vividos ao longo de uma experiência transformadora.

Após um mês, já mais habituado à cidade, decidi me mudar para um apartamento sozinho, ou melhor, aluguei um quarto em um apê, pois não tinha condições financeiras e nem legais de alugar um imóvel sozinho. Queria vivenciar a experiência de ser um cidadão local: ir ao banco, ao mercado, à farmácia, pegar ônibus, táxi e andar de bicicleta... tudo sem ajuda de ninguém. Esse desejo de viver o cotidiano me impulsionou a conhecer novas pessoas. Já conhecia a família onde morei, os colegas do curso de inglês e diversas pessoas de outras partes do mundo, mas ainda não tinha estabelecido amizades com canadenses.


Abraçar a Jornada
Abraçar a Jornada

Dois meses se passaram e, por acaso, descobri um grupo de vôlei formado exclusivamente por canadenses LGBTQIAP+. Enviei um e-mail pedindo se poderia me juntar ao grupo e fui aceito. Comecei a jogar com eles, o que já é um desafio por si só, mas imaginem a dificuldade de jogar vôlei em um novo país, sem dominar a língua! No início, quando a bola vinha em minha direção, eu gritava "mine", como fazemos aqui no Brasil, mas eles me olhavam de forma estranha. Era engraçado e desafiador. Contudo, foi nesse grupo que consegui formar minhas primeiras amizades com canadenses, que foram extremamente acolhedores. Graças àquela pessoas, pude realizar uma round trip ao país no final do intercâmbio e fiquei em casas de parentes amigo ou conhecidos deles em algumas cidades que visitei, uma experiência que valorizo muito.


No final, eu e uma grande amiga colombiana fizemos uma viagem pela ilha de Cape Breton, contornando-a de carro. Foram três dias de viagem, e a sensação de alugar um carro e dirigir em um país onde não conhecia as leis de trânsito era surreal. Nessa fase do intercâmbio, já me comunicava com mais fluência (embora não com a precisão de um nativo) e tinha superado as dificuldades iniciais.


Compartilho essa história para ilustrar que, apesar do desejo, da vontade e da emoção, também havia medo e insegurança. O sentimento de ser um estrangeiro, por mais acolhedor que fosse o ambiente, criava uma barreira. Essa sensação pode nos impedir de vivenciar plenamente novas experiências e nos deixar retraídos.


Para lidar com esses desafios, encontrei apoio nas amizades que formei. Busquei ser honesto comigo mesmo sobre meus conhecimentos e não hesitei em pedir ajuda sempre que necessário. Tive a coragem de admitir quando não entendia algo e pedi que falassem mais devagar. Participei até de uma missa em francês, não por uma crença forte, mas pela vontade de me conectar mais profundamente com as pessoas e seus contextos.


No final, percebi que não foi a língua que fez a diferença, mas sim as relações, as conexões e as experiências humanas que me aproximaram. Foram três meses de estranhamento, mas nos três meses seguintes me senti completamente em casa, parte integrante da comunidade, conhecendo a cidade e cercado por um grande círculo de amigos que me acolheram.


Viagem Intercâmbio Amizades
Viagem Intercâmbio Amizades

Essa história é apenas um recorte da complexa jornada de viver em outro país. Desafios inesperados, adaptações diárias e momentos de descoberta moldam não apenas nossa relação com o mundo, mas também conosco mesmos.


Se você está morando fora do Brasil, enfrentando dilemas semelhantes ou apenas buscando apoio emocional para se adaptar a novas realidades, saiba que você não precisa enfrentar isso sozinho. Estou aqui para ouvir, entender e te ajudar a encontrar os caminhos que mais ressoam com você.




Quais são os "desafios-azeitona" que têm aparecido na sua vida? Como tem lidado com as mudanças e incertezas?

Vamos conversar?



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