Segura Minhas Emoções!
- Diogo Ezequiel Peroni
- há 5 dias
- 3 min de leitura
(parte 2)
Quando o corpo vira armadura
Se você leu a primeira parte deste texto, já entendeu que as emoções nascem no corpo, que ele sente antes da mente saber, e que silenciar constantemente pode virar um problemão.
Agora vamos falar sobre o efeito acumulado disso.
Porque quando a gente passa a vida toda “segurando as emoções”…
… o corpo DEIXA de ser casa e vira prisão.
A couraça não é só emocional, ela é muscular
O psicanalista Wilhelm Reich (discípulo dissidente de Freud) percebeu que as pessoas não apenas desenvolviam defesas psíquicas (como negação ou repressão), mas também defesas físicas. Tensão muscular crônica, bloqueios respiratórios, rigidez no olhar, na mandíbula, no peito, nos quadris...
Ele chamou isso de couraça muscular: uma forma do corpo segurar emoções não expressas ao longo da vida.

Pense como uma armadura invisível.
Ela te protege, mas te imobiliza.
Te mantém forte, mas rouba sua espontaneidade.
E quanto mais tempo essa couraça é mantida, mais difícil se torna acessar certos sentimentos. A pessoa pode dizer “não sinto nada”, “nunca choro”, “não me afeto”.
Mas é que o afeto foi encapsulado.
A criança que você foi ainda mora aí
Grande parte dessas tensões começa na infância. Uma criança que, ao sentir raiva, é punida; ao chorar, é ridicularizada; ao demonstrar medo, é chamada de fraca — aprende que sentir é perigoso.
E para continuar pertencendo (e sobrevivendo), ela adapta o corpo. Inconscientemente, passa a contrair os músculos, a mudar a respiração, a bloquear expressões, até que isso se torne um padrão automático.

Um corpo domesticado para caber nas normas do “aceitável”.
Mas essa criança não desaparece. Ela só se esconde em algum lugar entre os pés e a cabeça.
E o que dá pra fazer com isso?
Reconhecer
Perceber seus próprios padrões de tensão é o primeiro passo. Onde seu corpo contrai quando você está em conflito? Como você respira quando está triste?
Autoconsciência é a chave.
(E não, não precisa virar um monge: só de prestar atenção já muda tudo.)
Sentir sem julgar
A emoção não é sua inimiga. É sua linguagem interna. Se algo te irrita, te entristece ou te anima — escuta isso. Evite o impulso imediato de racionalizar ou minimizar. Apenas sinta.
Mexer o corpo
A rigidez não se desfaz só com palavras. Corpo parado, emoção presa.
Atividades que envolvem respiração, movimento, expressão — como dança, bioenergética, yoga, arte, grito no travesseiro (sim, é válido) — ajudam a destravar o corpo.
Fazer terapia
Especialmente as que consideram corpo e emoção integrados (como a psicoterapia corporal reichiana, a bioenergética, a análise reichiana ou a biossíntese).
Elas não te “ensinam a controlar”, mas te convidam a entrar em contato com quem você é — sem defesas.
Ser sensível não é ser fraco

Se tem uma ideia que merece ser ressignificada é essa. Ser sensível é ser permeável à vida.É ser humano por inteiro. E sentir, expressar e se emocionar não te torna menos maduro — te torna mais presente.
Como diz uma frase atribuida a Alexandr Lowen (psicoterapeuta e teórico da Análise Bioenergética):
“O corpo é a base do ser. Negar o corpo é negar a si mesmo.”
E negar o que se sente… só adia o encontro inevitável com quem é mais importante: VOCÊ!
Você não precisa carregar tudo nos ombros. Seu corpo pode ser casa, não prisão.
Vamos conversar?
_________________________________________________________
Quer se aprofundar?
A seguir, compartilho alguns autores e seus livros / textos que contribuem para um olhar mais profundo sobre o tema:
Wilhelm Reich – A função do orgasmo, Análise do Caráter
Alexander Lowen – Bioenergética, O Corpo em Terapia
Elen Patricia Piccinini – Resgatando a Inteligência Emocional através do Corpo
Mayer & Salovey – Emotional Intelligence
Daniel Goleman – Inteligência Emocional